O debate como estratégia de ensino para “O dia do Índio”

Apesar da Lei 11.645/08, ainda temos dúvidas a respeito de como trabalhar o Dia do Índio nas aulas de Filosofia. Apresentamos o debate como estratégia.

A Filosofia enquanto componente curricular tem a responsabilidade de tratar dos assuntos referentes ao Dia do Índio *
A Filosofia enquanto componente curricular tem a responsabilidade de tratar dos assuntos referentes ao Dia do Índio *
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Embora se possa questionar a relação entre o conteúdo de Filosofia e o Dia do Índio, precisamos nos lembrar que, pela Lei 11.645/08 que regulamenta a obrigatoriedade do Ensino da História e da Cultura Afro-brasileira e Indígena em todos os níveis de ensino, essa temática deve ser abordada em todas as disciplinas do currículo da educação básica.

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Vejamos o que diz a lei:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras” (BRASIL, Lei 11.645/08)

Ou seja, a Filosofia enquanto componente curricular tem a responsabilidade de tratar dos assuntos referentes à temática indígena. Isso pode ser feito em diálogo com a história da Filosofia: se optar por essa abordagem, o(a) professor(a) pode confrontar as noções de “amor”, “morte”, “origem do universo”, “fé e razão” e “autoridade” a partir de textos filosóficos e textos que refiram aos povos indígenas.

Para isso, o(a) professor(a) deve pedir uma pesquisa na sala de aula em revistas acadêmicas online e/ou em sites confiáveis. A plataforma Scielo pode ser uma boa ferramenta para localizar os estudos que estão sendo feitos e que são pertinentes à aula. Se for inviável o uso da internet em sala de aula, o(a) professor(a) pode pedir que a pesquisa seja feita em casa, indicando antes alguns sites acadêmicos ou levar as pesquisas impressas.

É importante que os estudantes comecem a ter, desde o início de sua formação, o contato com artigos científicos e pesquisas acadêmicas. O(a) professor(a) pode, antes, mostrar que artigos têm uma estrutura comum (abstract, palavras-chave, notas de rodapé, introdução, conclusão, referências bibliográficas). Em seguida pode fazer um roteiro para que os estudantes consigam extrair o máximo de informações do texto. Dicionários são fundamentais para a leitura porque é possível que apareçam termos que não fazem parte do cotidiano dos estudantes. Ou seja, a leitura de artigos acadêmicos também oferece uma oportunidade para que se amplie o vocabulário.

A leitura pode ser feita em grupos: um texto pode ser distribuído para cada grupo, que deverá discutir entre si e apresentar um resultado na próxima aula. Assim, toda a turma terá conhecimento, ainda que superficial, do conteúdo de todos os textos. Na aula seguinte, o(a) professor(a) organizará um debate.

O debate pode ser desenvolvido de muitas formas. Uma estratégia que envolva toda a turma pode ser a seguinte:

1) O(a) professor(a) prepara previamente questões que podem ser polêmicas a respeito dos temas e a partir dos textos.

2) Se a turma tiver sido dividida em cinco grupos, por exemplo, cinco cadeiras são colocadas ao lado da mesa do professor, ou seja: voltadas para os colegas.

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3) Antes de fazer cada pergunta, o(a) professor(a) convida um representante de cada grupo para se colocar nas cadeiras. Pode haver um sorteio, caso os estudantes prefiram.

4) Depois de fazer a pergunta, o(a) professor(a) reservará alguns minutos para que cada estudante desenvolva sua resposta a respeito do tema.

Outra forma de organizar seria a seguinte: em vez de sortear uma pessoa para ir à frente responder à questão, o(a) professor(a) pode manter a sala dividida em grupos e fazer a pergunta direcionada a todos. O tempo de resposta, neste caso, precisa ser maior, pois o grupo precisa entrar em um consenso antes de responder. A vantagem de organizar assim é que preserva a individualidade dos estudantes que não gostam de se expor ao público, além de permitir que a resposta seja mais bem elaborada. A desvantagem é que o estudante que não gosta de se expor ao público perde a oportunidade de desenvolver essa habilidade. Além disso, perdemos a oportunidade de ouvir a resposta de cada um.

É importante que se oriente os estudantes para a inexistência de respostas erradas, pois se trata aqui de uma atividade que prioriza desenvolver a capacidade de argumentação. No entanto, eles precisam responder com base nas leituras feitas e nas aulas anteriores.

O(a) professor(a) pode fazer a pergunta por meio de alguma manchete de jornal, por exemplo, o assassinato do índio Galdino em 1997. A pergunta pode ser: “Como esse assassinato pode ser compreendido com base no nosso passado colonial? Tem alguma relação ou não?”

É possível também estabelecer um paralelo entre os mitos indígenas com as teorias pré-socráticas, lendo um trecho de algum mito e, logo depois, perguntar para os alunos se o conteúdo tem algum paralelo com os textos pré-socráticos.

Ao final da atividade, o(a) professor(a) pode pedir para que cada estudante, individualmente, escreva um pequeno texto sobre o “conceito que fazemos de índio”. É importante que se oriente os estudantes a relacionarem em sua escrita o conteúdo estudado em sala, principalmente o que acabou de ser debatido.

Dessa forma, a um só tempo em que se trabalha com os estudantes a capacidade de ler um conteúdo filosófico, também se trabalha a capacidade de ler um texto de outra natureza a partir da Filosofia. O estudante é incentivado a formar um pensamento sobre uma questão, a argumentar a respeito do seu ponto de vista de forma oral e escrita.

*Créditos da imagem: Anton_Ivanov e Shutterstock.com


Por Wigvan Pereira
Graduado em Filosofia